sexta-feira, 28 de maio de 2010

Soneto à pátria

Nesta noite em Toronto junto ao lago gelado
que o grasnido dos gansos não ousa estremecer
minha pátria ofendida surge na escuridão
e vem ao meu encontro com o seu sol e andrajos.

Ao seu redor estão os goiamuns que moram
no chão mudo dos mangues, o sinal semafórico
que ao lado da guardamoria freme na maresia
e os mendigos que esperam a morte sob os viadutos.

Caminhando na neve nesta noite estrangeira,
entre as sílabas negras dos frígidos pinheiros,
murmuro no vento o teu nome desmatelado.

ó pátria desamada, ó rameira insultada,
quanto mais longe estás, teu espinho distante
mais dói na minha mão inútil e gelada.

Ledo Ivo

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